Sempre gostei de cães.
Embora eu não tenha recordações daquela época, meus pais contam que na minha infância em Blumenau tivemos alguns. O Miruim branco e o Miruim preto (originalidade, a gente vê por aqui!) são os mais lembrados.
Quando fiz dois anos, viemos morar em Florianópolis. Com a ideia – hoje sabidamente equivocada – de que cachorro e apartamento não combinam, vivi até os 20 sem uma presença canina em casa. Não, a minha presença não conta!
Até que um dia o meu irmão mais velho – aproveitando a sua já programada e iminente saída da casa dos meus pais para ir morar sozinho – resolveu adiantar o expediente, e apareceu com o meu 1º sobrinho quadrúpede. Um Daschund (é, o baixinho da Cofap) de 45 dias de idade, minúsculo, marrom, valente e cabeçudo, que devido a paixão do meu irmão pela música foi batizado de John Lennon.
Mas os meus cabelos, quanta diferença!
Por um motivo qualquer, meu irmão acabou não indo morar sozinho tão imediatamente assim, e o “mãe ele vai morar aqui no máximo um mês” acabou virando um ano. E foi aí que tive meu primeiro contato com educação canina.
Pela nossa falta de experiência na maneira correta de criar um cão (ou pelo menos a que hoje eu acredito ser a correta), o Lennon foi matriculado em uma escola de adestramento. Creio que foram apenas umas 4 ou 5 aulas, e se elas não funcionaram pra acabar com 100% da rebeldia do rebaixado, pelo menos serviram para me adestrar um pouco, e fazer eu perceber que tinha certo jeito para a coisa.
Algum tempo depois, num dos passeios diários do Lennon, ele acabou por ganhar um irmão. Um Gremlin preto que estava deitado embaixo de uma árvore, à beira da morte, praticamente imóvel por causa da fome e de um problema cardíaco que o obriga a tomar remédio até hoje, com os pelos caindo por causa de um fungo, e foi resgatado pelo meu irmão (calma mãe, agora já na casa nova dele). Com vocês, Pink Floyd:
Manso, calmo, discreto, carinhoso e relativamente obediente. É a ternura em forma de gente, digo, de cachorro. Quem não acredita que cães pensam e tem sentimentos certamente mudaria de ideia se visse a gratidão em seu olhar quando ele olha para o meu irmão.
Apesar de nossa preocupação inicial, o Lennon não se mostrou ciumento e aceitou bem a companhia. Observando a interação entre eles eu comecei a perceber dois conceitos fundamentais para quem quer entender como funciona o mundo canino: Matilha e liderança. Apesar de ser mais novo e ter “invadido” o território do outro, a dominância do Floyd não demorou muito fazer ele se tornar o líder da matilha (de dois, por enquanto).
Isso, por enquanto… pois um belo dia eu recebo uma ligação do meu irmão dizendo “Oi, estava aqui passeando com os dois e encontrei mais uma abandonada. Podes vir me ajudar?“. Ajuda dada, apresento para vocês a 3ª integrante da banda, uma cadela em forma de mortadela (olha, rimou!), Nina Hägen:
Sabem as qualidades que eu comentei sobre o gremlin Floyd? Então, inverta todas, adicione uns odores intestinais periódicos e vocês vão ter uma ideia sobre esta figura. Lambe, morde, pula sem pensar em como vai cair, baba, come demais, puxa a coleira, desobedece, é estabanada… Enfim, uma peste. Uma peste apaixonante, mas ainda uma peste
Desde que o Lennon surgiu em nossas vidas, a família virou muito cachorreira. Além do Floyd e da Nina, já perdi as contas de quantos cachorros de rua eu, meus irmãos e meus pais já recolhemos da rua, cuidamos dos problemas de saúde, mandamos castrar e depois achamos um dono.
Os dois casos mais marcantes foram a vez que meu pai parou o carro em cima da ponte Gov. Pedro Ivo Campos para resgatar um patudo que tinha resolvido entrar na Ilha da Magia a pé, e da vez que eu chorei feito criança quando tive que autorizar o sacrifício do Marronzinho, que eu tinha resgatado numa rua perto de casa e infelizmente estava em estágio avançado de cinomose.
Como meu irmão já tinha aplicado o golpe e minha mãe já estava vacinada contra trazer cães “temporariamente” pra casa, os vários resgatados acabavam ficavando em hospedagens até acharmos dono.
Mas aí eu decidi morar sozinho. Ou pelo menos eu achei que seria sozinho… [Continua em A história do manual – Parte 2]
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